quarta-feira, 4 de maio de 2011

CYRANO:
No amor, é abominável! É um crime
Prolongar essa esgrima quando se ama demais!
Chega o momento, inevitavelmente,
-E lamento por aqueles a quem ele não chega-
Em que sentimos dentro de nós um nobre amor que existe,
E que cada bela palavra que dizemos torna triste!

ROXANE:
Pois bem! e se é chegado para nós dois esse momento,
Que palavras o senhor há de dizer-me

CYRANO:
Todas, todas, todas aquelas que me venham
Á mente, e que em sua direção lançarei
Sem nem mesmo arranja-las em buquê: eu a amo,
Mal respiro, te amo, enlouqueço, não aguento mais, é demais;
Em meu coração, teu nome está como num guizo,
E como, Roxane, eu estremeço, o tempo todo,
Todo o tempo esse guizo se agita, e teu nome soa!
De ti, tudo amo, tudo recordo:
Certo dia do ano passado, doze de maio,
Para sair, de manhã, mudaste o penteado!
De tal forma tomei teus cabelos por claridade
Que meu olhar, ofuscado, inundou-se de manchas
Douradas, assim como acontece quando o sol
Se olha, e depois tudo se tinge de vermelho!

ROXANE, com a voz comovida:
Sim, isso de fato é amor...

CYRANO:
Sim, esse sentimento
Que me invade, terrivel e zeloso, verdadeiramente
É amor, e tem dele todo o furor triste!
É amor e, no entanto, não é egoísta
Ah! eu daria a minha em troca da tua felicidade,
Ainda que nunca viesses a saber de nada,
Se alguma vez, de longe, me fosse possivel ouvir
Um riso feliz nascido do meu sacrifício!
-Cada olhar teu suscita uma nova
Virtude, uma nova audácia em mim! Agora
Começas a entender? será que te dás conta?
Percebes um pouco minha alma, neste escuro
Se elevando?... Oh! mas esta noite, realmente,
É bela demais, por demais doce!
Digo-te tudo isso e tu me ouves!
É demais! Mesmo em minha esperança menos modesta,
Jamais esperei tanto! E agora, só o que me resta
É morrer! -Por causa das palavras que declamo
Ela estremece entre os ramos!-
Pois estremeces, como uma folha entre as folhas!
Estremeces! pois, queiras ou não queiras,
O tremor adorado de tuas mãos pude sentir
Descendo pelos ramos de jasmim!
Ele beija perdidamente a extremidade de um galho pendente.

ROXANE:
Sim, estremeço, e choro, e te amo, e sou tua!
Tu me embriagaste!

CYRANO:
Então, que a morte venha!
Tal embriaguês, fui eu, eu que a causei!
Não peço nada além...

Cyrano de Bergerac - Edmond Rostand

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